Chega a ser cômico ver os anúncios das construtoras brasileiras utilizando termos como apartamento compacto, o slogan menos é mais – citando a famosa frase do arquiteto minimalista Mies Van der Rohe – como se isso fosse uma vantagem comercial. Como se as pessoas tivessem um desejo interior de morar em cubículos amontoadas umas sobre as outras.
Anunciam esses micro apartamentos de 19 m² como artigos de luxo, como se fossem bolsas da Louis Vuitton. É certo que existe sim um problema de espaço nas grandes cidades, que o metro quadrado dos terrenos está cada vez mais caro e que morar próximo ao centro tem um custo alto, morar em apartamentos pequenos é uma necessidade devido a aglomeração urbana e não luxo.
E como já foi comparado em um post aqui do ArquiDicas, um apartamento de cerca de 19 m² em São Paulo, na época custava 30% a menos que um apartamento com 35 m² em Tóquio, são 16 m² a mais de área útil por um preço menor.
O que esses dois aglomerados urbanos têm em comum é que considerando a Grande São Paulo e o conglomerado de cidades que formam a região de Tóquio, ambas têm densidades demográficas semelhantes e populações equivalentes, ambas são “megacidades” mundiais com grande apelo comercial.
São muito parecidas, em Tóquio já existem apartamentos compactos há muito tempo, mas a diferença é que esses apartamentos não são supervalorizados como um artigo de luxo, as pessoas sabem e moram em apartamentos compactos por não terem condições financeiras de morar em apartamentos maiores e aqui no Brasil esses apartamentos compactos são comercializados para pessoas com alto poder aquisitivo.
Justamente pela propaganda que cola a ideia de luxo, de modismo em apartamentos cubículos. Cobrando valores absurdos para que as pessoas vivam em espaços confinados. Essa supervalorização da metragem quadrada faz com que os imóveis maiores acabem por custar ainda mais, afinal o mercado imobiliário precifica os imóveis segundo a metragem.
Ou seja, no final das contas os apartamentos compactos no Brasil não atendem a classe que deveria e o pior contribuem para um aumento no valor geral dos imóveis.
Fato é que esses apartamentos compactos vem de encontro a uma nova forma de viver nas grandes cidades, que deveriam ser localizados em regiões centrais com disponibilidade de infraestrutura para suprir a falta de área social nesses pequenos apartamentos e deveriam ter um custo reduzido e não 300 mil reais por menos de 20 m².
Para morar em apartamentos compactos é preciso se adaptar, repensar o estilo de vida, não é uma coisa para todo mundo, a vivência deixa de ser dentro do lar e passa a ser na área pública e em áreas compartilhadas pelos condôminos. Caso contrário podemos chamar a vida em um apartamento compacto de confinamento.
Mas, como morar em cubículos de 15 m²?
De duas maneiras a primeira é usar o imóvel apenas como dormitório, transformando o único ambiente em um quarto, com uma pequena cozinha apenas para passar um café, basicamente é como se você morasse em um flat/hotel.
As suas refeições principais teriam que ser feitas sempre na rua, você não teria espaço para receber praticamente ninguém na sua casa, pois não existiria sala de estar e o seu quarto que deveria ser uma área privada vai estar sempre presente quando você trouxer alguém no seu humilde cubículo.
Essa é uma maneira de se viver em um apartamento compacto, a outra é investir em mobiliários inteligentes, contratando um arquiteto ou designer para projetar soluções funcionais, criativas, e milagrosas para transformar aquele espaço de “15 m²” em um espaço multifuncional que atenda as suas necessidades privadas e sociais.
Ou seja, transformando um único ambiente em outros ambientes através da adaptação dos móveis, das divisões do espaço, enfim utilizando muitas soluções com esses termos aqui: retrátil, flexível, empalhável, multifuncional, etc.
Para ilustrar isso eu trouxe o exemplo da empresa britânica YO! Company que propõe repensar a forma como nós utilizamos os espaços para estabelecer em um único ambiente a possibilidade de usufruir de diversos espaços: cozinha, sala de jantar, sala de estar, quarto e até espaço para hóspedes.
Veja no vídeo a seguir algumas das propostas dessa empresa que se baseia nos espaços japoneses para criar mobiliários adaptativos para o uso econômico do espaço.
Com soluções como cozinhas escondidas atrás de portas de correr, camas retráteis que quando estão em uso escondem a sala de estar e quando recolhida fica invisível junto ao forro e permite receber visitas nesse espaço social.
A foto abaixo mostra o mesmo espaço, na primeira imagem a sala de estar e jantar estão prontas para o uso, o sofá e a mesa de jantar ficam em um subnível, a mesa de jantar pode ser recolhida, sendo que os próprios bancos formam as portas de fechamento, e o sofá fica sob a cama quando está está em uso. A cama é elevada ou rebaixada automaticamente, quando não está em uso fica recolhida junto ao forro.
Na imagem abaixo uma ideia de como fica o espaço da sala de jantar quando a mesa está ou não sendo usada.
Sob o piso elevado do apartamento compacto são feitos nichos para armazenamento.
A cozinha do apartamento fica escondida atrás de portas de correr com um desenho simples que repete o mesmo modelo das portas dos roupeiros. Quando está em uso a cozinha que utiliza eletrodomésticos embutidos fica a mostra, quase em frente a mesa de jantar.
A cozinha, sala de jantar e estar fazem parte da área social do apartamento, quando ele possibilita receber visitas. Já quando a cama é rebaixada o espaço que até então era social se transforma em uma área íntima.
Essa configuração do apartamento foi possível graças a um pé-direito alto, que permitiu o uso do piso elevado e do forro de gesso para criar diferentes planos para os móveis.
É importante que ao projetar os edifícios e apartamentos compactos os arquitetos já esquematizem esse tipo de soluções, mesmo que o apartamento seja comercializado sem mobiliário, o dimensionamento do espaço já tem que prever um layout mobiliário diferenciado como este.
A imagem acima é um corte representativo do projeto da YO! Home, onde é possível identificar o piso elevado e o rebaixamento do forro, o que deixa subentendido que o apartamento já foi projetado para possibilitar essas adequações, a janela do prédio, conforme os detalhes 01 e 02, já inicia a partir da elevação do piso.
[…] obras e maximizando os lucros. Um apartamento com metragem menor, não implica em menos conforto, mais exigem grandes desafios. A falta de espaço deve ser compensada com uma organização mais detalhada dos móveis. Os […]
Bom dia Fernanda,
Td bem ?
Meu nome é Felipe, sou engenheiro civil e estamos iniciando no ano de 2017 a construção do nosso primeiro empreendimento no segmento compacto.
Estamos em fase de finalização dos projetos arquitetônicos e estamos indo até o Japão passar alguns dias para fazermos uma imersão no mercado deles que está mts anos à frente do nosso nesse segmento.
Gostaria de saber se vc contém mais informações sobre esse assunto.
Meu e-mail eng.felipelopesoliveira@gmail.com